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Fundos de participações fogem da cartilha
Grande parte do sucesso da abertura de capital da Smiles, empresa de milhagens da Gol, concluída no fim de abril, foi atribuída à participação do fundo de private equity General Atlantic (GA) na operação.
Contrariando a teoria, a oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) da empresa foi o momento de entrada e não de saída do fundo de participações na empresa. A presença do GA e suas condições de incremento de governança corporativa foram um apelo para que outros investidores comprassem a operação.
A demanda foi tanta que o fundo teve que elevar o preço que pretendia pagar pela ação. Ao final do processo, injetou R$ 400 milhões e ficou com 16% da Smiles e não com 20%, como desejava inicialmente. Quem comprou ações na bolsa poderá compartilhar do mesmo retorno que será proporcionado aos cotistas do GA no investimento, uma oportunidade pouco comum.
Essa transação é mais uma a ilustrar que as estratégias dos private equities, na prática, não seguem exatamente a teoria. Em tese, esses fundos investem em empresas de capital fechado. Trabalham longe dos holofotes do mercado para aprimorar aspectos financeiros e de governança e promover seu crescimento. Em um prazo médio de cinco anos, deixam o investimento e têm como opções principais de saída a venda da participação na bolsa ou a um investidor estratégico.
Entre grandes fundos que têm histórico de atuação no Brasil, apenas o Gávea segue à risca a cartilha. Quando leva uma empresa para a bolsa é porque está se desligando do investimento. Ele vende um pedaço na oferta inicial e depois segue os períodos de lock ups (restrição à venda), normalmente de seis meses a um ano após a estreia em bolsa fixados para acionistas antigos de companhias que chegam ao Novo Mercado.
“Sempre deixamos a sociedade. O mandato que nos é dado pelo nosso cotista é para fazer um investimento ilíquido. Se a empresa foi para a bolsa, ela perdeu essa característica. Então prefiro devolver o dinheiro a esse cotista e ele, se assim desejar, pode comprar as ações”, explica Luiz Fraga, sócio do Gávea. “Podemos adorar a empresa, mas vendemos”, diz.
Diferentemente da maioria dos gestores, ele avalia que a performance futura da empresa na bolsa não deve ser necessariamente atrelada à imagem de seus negócios de private equity.
“No Gávea, não nos interessamos por participações de controle, mas sim por fatias minoritárias. Depois que deixamos o investimento, fatos novos para a vida dessas companhias, que fogem ao nosso controle e responsabilidade, acontecerão. Essas novidades deverão ser administradas pela companhia, em sua nova realidade”, afirma.
Para a maioria dos outros grandes gestores, a listagem em bolsa não significa desligar-se do investimento, ao contrário. Muitos intensificam seus trabalhos com as companhias abertas.
Um executivo de private equity que prefere não ser identificado afirma que não vê o IPO como uma estratégia de saída do investimento. “Ele acontece quando ocorre uma mudança da patamar da empresa, que vai iniciar um novo ciclo”, avalia.
O Advent Internacional, que já levou à bolsa brasileira sete companhias, tem, entre seus maiores sucessos de performance a Kroton. Nessa companhia, o Advent comprou uma fatia de 50%, em junho de 2009, dois anos depois da abertura de seu capital.
O fundo ainda enxergava possibilidades de melhoria em gestão e governança e comandou três operações transformadoras para a empresa: as aquisições de IUNI e Unopar e, recentemente, a associação com a Anhanguera. Ao final desse processo ainda terá 5,8% da nova empresa
Patrice Etlin, sócio-diretor da Advent International, em entrevista dias antes do anúncio da união entre Kroton e Anhanguera, diz que a bolsa é vista pelo fundo como uma via de saída gradual para o investimento. Sempre que faz um IPO, o fundo fica com uma participação relevante no negócio, para mostrar o alinhamento entre os sócios antigos e os novos investidores.
“A valorização das ações da empresa na bolsa, que traz novas oportunidades de negócio, também será um pedaço importante do retorno que o private equity dá a seus cotistas”, diz Etlin. Para ele, é importante que as companhias apresentem bom desempenho na bolsa, até mesmo para que, no futuro, os investidores continuem com interesse em comprar ações trazidas pelos fundos da gestora.
O Advent também tem um caso pouco comum de investimento. Na Cetip, apenas cinco meses depois de entrar na empresa, o fundo listou a companhia na bolsa, no final de 2009. Apesar do tempo em tese ser curto para que o fundo fizesse melhorias que justificassem a saída do investimento, isso mostra que também os private equities trabalham muito atentos às janelas de oportunidade na bolsa. E não apenas para desinvestimento – enquanto as empresas se apresentam a investidores para uma oferta pública inicial, podem mudar o rumo e unirem-se a um parceiro estratégico.
Em 2008, a gestora Tarpon comprou 25% da Direcional Engenharia depois que a companhia se preparou para um IPO e desistiu em sua primeira tentativa. Em novembro de 2009, a Tarpon listou a Direcional na bolsa e, por conta do mercado ainda difícil para as ofertas, acabou, junto aos controladores, comprando mais ações da empresa no IPO, garantindo sua concretização.
Aparentemente, a aproximação entre GA e a Smiles ocorreu enquanto a empresa buscava alternativas para capitalização – no fim do processo, optou por ambos, oferta de ações e venda a private equity. Em 2007, o GA comprou uma participação na antiga BM&F meses antes do IPO daquela bolsa. Em 2008, comprou 46% da Qualicorp e saiu da companhia vendendo a fatia para outro private equity, o Carlyle.
O Pátria, que levou à bolsa três companhias, começou a vender sua participação na empresa de TI Tivit na bolsa em 2009, na época do IPO. Seis meses depois, no entanto, o fundo liderou a venda da companhia para um investidor estratégico, que fechou o capital da empresa. O Pátria já recebeu críticas de investidores por sua estratégica, que, avaliam, tem um apelo mais financeiro.
Procurado, o Pátria informou que sua “missão é investir na profissionalização, no aprimoramento da gestão e na promoção da consolidação do mercado em que suas empresas investidas atuam. O IPO é apenas uma das formas de saída das investidas, que depende de vários fatores, como o momento externo do mercado.”
Valor Econômico de 8.5.2013.